
(...) Esgota, como um pássaro,
As canções que tens na garganta.
Canta. Canta para conservar a ilusão
De festa e de vitória.
Talvez as canções adormeçam as feras
Que esperam devorar o pássaro.
Desde que nasceste
Não és mais que um vôo no tempo.
Rumo ao céu?
Que importa a rota?
Voa e canta
Enquanto resistirem tuas asas.
Menotti del Picchia
Parei para olhar a chuva. Raios e trovões. Raios, não caibo mais dentro do armário, onde eu escondia meus medos – eles agora andam pela casa, crônicos e verbalizados. Tem dias que eles me fazem duvidar da força das pernas e da leveza das asas.
São eles, atrevidos e sarcásticos, que me fazem dever uma vela pra cada santo e desconfiar de todos os santos – mas é só em alguns dias – quando eu acordo querendo voltar pra cama.
Tem dias que simplesmente não vivo sem eles, esses medos disfarçados de ansiedade.
E nem é porque chove canivete, nem porque já é abril, não me engano.
Nesses dias, faço voto de silêncio e sustento um olhar arredio pra não distrair a esperança ou banalizar o sonho.
Nesses dias, só nesses, preciso aprender a soltar o pássaro preso na garganta pra que seu meu canto adormeça minhas feras.
Em tempo...
Eu, beija-flor dessa luz que se abre feito flôr a cada dia...
Eu, dobradura irriquieta de um papel escrito por mãos divinas...
Eu, origami das canções da vida, que voa por entre as flôres que a vida plantou para mim...